Consciência negra e política
Toda cultura que foi vítima da violência de um processo de colonização enfrenta o problema da discriminação racial. É incontestável a tese segundo a qual “a opressão militar e econômica de uma civilização sobre outra precede, possibilita e legitima o racismo” (FANON, 2021, p. 19). O Brasil é um exemplo claro de como os colonizadores europeus escravizaram os nativos e negros e inferiorizaram os símbolos de suas culturas para justificarem a apropriação das terras que lhes garantiriam a dominação social, econômica e política em nosso país. Em oposição a esse processo, uma política antirracista demanda uma intervenção social em combate aos efeitos da colonização, e, principalmente, “a recuperação da autoestima negra, por meio da recuperação do seu papel na história nacional e do avivamento do seu orgulho racial e cultural” (GUIMARÃES, 1999, p. 228).
“O racismo é a redução do cultural ao biológico e ele existe sempre que se pretende explicar um dado status social por uma característica natural” (GUIMARÃES, 1999, p. 32). A biologização da pobreza, um dos seus efeitos, funciona como ideologia para naturalizar as hierarquias sociais, elevando o branco e diminuindo o negro. É contra essa perspectiva, contra o caráter não científico e mitológico da noção de raça enquanto critério usado para justificar a pobreza desses homens e dessas mulheres, que o dia da consciência negra arma sua luta. O 20 de novembro denuncia as consequências desumanas e bárbaras do racismo.
Ademais, considerando que a força motriz deste problema social é a dominação econômica de oligarquias brancas privilegiadas e a destruição da memória cultural dos negros vitimados pelos colonizadores do passado e pelas classes dominantes do presente, a política que deriva da “celebração” da consciência negra possui duas poderosas frentes de batalha: a guerra pela erradicação da pobreza e a luta por uma educação decolonial e antirracista.
Os homens e as mulheres que desejam manifestar seu compromisso com ambas as causas poderiam abraçar as pautas que dão legitimidade aos interesses políticos dessas minorias sociais, garantindo um maior equilíbrio de riqueza, prestígio social e poder entre brancos e negros, bem como resgatarem as histórias de resistência dessa população que foi esquecida nos projetos de nação responsáveis pelo memoricídio de suas práticas culturais, tendo em vista a construção de uma identidade nacional que contemple a pluralidade cultural e não inferiorize ou anule as identidades étnicas.
FANON, Frantz Omar. Racismo e cultura. Editora Terra sem Amos: Brasil, 2021.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e antirracismo no Brasil.- São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; Ed. 34, 1999.